O pós-boom da transformação digital e a maturidade nas empresas brasileiras - Após a euforia da transformação digital, as empresas brasileiras enfrentam agora o desafio da maturidade. Como integrar cultura, tecnologia e resultados sustentáveis?

Transformação digital

O pós-boom da transformação digital e a maturidade nas empresas brasileiras

28 de outubro de 2025

O ciclo pós-boom da transformação digital, especialmente nas médias e grandes empresas brasileiras, trouxe à tona questões que vão muito além da implantação de novas tecnologias. O otimismo desenfreado dos últimos anos começou a dar espaço a uma análise mais realista e, muitas vezes, dolorosa do processo de amadurecimento digital, dos erros recorrentes e dos aprendizados que definem o “pós-euforia digital”.

Da euforia à ressaca digital

Durante anos, a transformação digital foi apresentada como um atalho para a eficiência e a competitividade. Milhares de projetos foram lançados sob o discurso da disrupção, com a promessa de reescrever o funcionamento dos negócios e acelerar o crescimento. Na prática, porém, a maior parte das organizações brasileiras ainda não alcançou um patamar consistente de maturidade digital.

Grande parte das empresas nacionais permanece no estágio de digitalização, ou seja, reorganiza processos por meio de tecnologias, mas sem gerar valor contínuo e sustentável. Essa lacuna entre expectativa e entrega mostra que a transformação digital é menos sobre velocidade e mais sobre consistência. Exige resiliência, experimentação e, sobretudo, capacidade de liderar mudanças contínuas com clareza estratégica.

Há também sinais de que o caminho está progredindo, por exemplo, na indústria brasileira, o percentual de empresas que utilizam inteligência artificial subiu de 16,9% em 2022 para 41,9% em 2024. Mostrando que o empenho existe, mas ainda é necessário verificar se esse esforço está se convertendo em valor sustentável.

As dores do crescimento digital

O cenário pós-euforia revela dores comuns a empresas de diferentes setores e portes. Em muitos casos, as falhas decorrem de decisões apressadas e da ausência de uma visão integrada de negócio.

Cultura organizacional despreparada

Um dos principais erros foi tratar a transformação digital como um projeto de TI, e não como uma mudança de cultura. Empresas que negligenciaram o preparo dos times, a formação de líderes digitais e o engajamento interno enfrentam resistência, baixa produtividade e frustração coletiva.

Fragmentação tecnológica

O acúmulo de sistemas isolados, sem interoperabilidade, gerou o efeito oposto à eficiência prometida. Ambientes com ferramentas desconexas aumentaram os custos operacionais e dificultaram a tomada de decisões em tempo real, tornando a infraestrutura mais cara e complexa de manter.

Planejamento estratégico inconsistente

A pressão competitiva levou muitas organizações a adotar soluções por modismo, sem diagnóstico de maturidade ou alinhamento com seus objetivos. Projetos começaram com forte investimento e visibilidade, mas sem sustentação de longo prazo.

Governança de dados falha

Em diversos casos, o valor prometido pelos dados nunca se concretizou devido à falta de governança. Dados dispersos, duplicados e sem uma política clara de uso minaram a capacidade analítica e elevaram os riscos de segurança e de compliance.

Essas dores marcam uma transição em que o mercado começa a perceber que a tecnologia, sozinha, não transforma empresas. Afinal, a maturidade digital depende da integração entre cultura, processos e liderança orientada por dados.

Falta de maturidade digital

A maturidade digital hoje é um diferencial competitivo e, ao mesmo tempo, um espelho das limitações estruturais das empresas brasileiras. De acordo com o Índice Transformação Digital Brasil, elaborado pela PwC e Fundação Dom Cabral, apenas 4% das empresas do país são consideradas líderes digitais. A média nacional é de 39 pontos em 100, e os negócios mais maduros registram uma taxa de crescimento de EBITDA até três vezes superior à das demais.

Enquanto poucas empresas atingiram um estágio de transformação genuína, a maioria ainda opera sob um modelo reativo, adaptando-se às demandas tecnológicas, mas sem estratégia para extrair valor delas. Entre os principais fatores que mantêm o Brasil nesse estágio intermediário estão:

  • Liderança digital restrita: a maioria das médias empresas está estagnada na digitalização, sem evoluir para a transformação. 
  • Baixa integração e visão fragmentada: ferramentas desconexas e a falta de uma abordagem unificada impedem que as empresas extraiam valor integral dos investimentos em tecnologia.​
  • Atenção insuficiente ao cliente: muitas ações “digitais” são orientadas para o backoffice, sem foco na experiência do cliente ou em uma jornada integrada.​

O que deu errado nas grandes promessas

A maioria das falhas não está na tecnologia em si, mas na forma como ela foi introduzida. As grandes promessas de transformação digital não fracassaram por falta de investimento, e sim por ausência de direção estratégica.

Cerca de 70% das iniciativas de transformação digital falham por falta de objetivos claros. Quando a tecnologia é implementada sem propósito definido, ela se torna apenas um custo a mais. Além disso, a resistência à mudança continua sendo uma barreira relevante, especialmente em estruturas corporativas rígidas.

Outro ponto é a fragilidade dos processos e das métricas. Muitas empresas mantiveram estruturas hierárquicas antigas, com processos lentos e métricas pouco adaptadas ao ambiente digital. Sem indicadores de valor tangível, os projetos perderam credibilidade e foram descontinuados antes de amadurecerem.

Há também um fator humano, refletido no desgaste das equipes. O excesso de iniciativas simultâneas, sem priorização e comunicação clara, levou à sobrecarga e à perda de engajamento. Em vez de uma transformação, o resultado foi uma sucessão de pilotos inacabados.

O novo ciclo de transformação

A pós-euforia digital inaugura uma fase mais seletiva, em que a lógica de investir para “não ficar para trás” perde espaço para a de investir com propósito e retorno mensurável. O foco muda de transformação para governança digital, conceito que envolve três frentes principais:

  • Clareza estratégica: definir objetivos digitais alinhados ao negócio, com indicadores de valor tangível e prazos realistas.
  • Infraestrutura sustentável: construir arquiteturas modulares e interoperáveis, reduzindo redundâncias e aumentando a escalabilidade.
  • Gestão de talentos digitais: formar times multidisciplinares com autonomia, capacidade analítica e cultura de experimentação responsável.

Empresas que aprendem com a ressaca do boom digital tendem a evoluir com mais equilíbrio, direcionando investimentos para a eficiência operacional e para impacto mensurável.

Do hype à consistência

A transformação digital não perdeu relevância, mas perdeu ingenuidade. O mercado amadurece e, com ele, surge uma nova geração de líderes preocupados em transformar com propósito, mensurar impacto e sustentar resultados no longo prazo. A euforia deu lugar à consistência, e essa talvez seja a melhor notícia para o futuro das empresas brasileiras.

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Autor

Rafaela Dornellas

luby.com.br

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