PIX no mundo: o futuro dos pagamentos instantâneos e o impacto global da inovação brasileira - Saiba como o Pix no mundo transforma o Brasil em referência em pagamentos instantâneos, com impacto econômico, político e geopolítico.

Fintechs e Bancos

PIX no mundo: o futuro dos pagamentos instantâneos e o impacto global da inovação brasileira

21 de agosto de 2025

Globo sendo rodeado pelo Pix, simbolizando o pix global, tema do pix no mundo.

O Brasil transformou o Pix de uma funcionalidade bancária em infraestrutura pública de pagamentos. Veloz, barata e massiva. Hoje inspira governos, desafia modelos legados e reorganiza cadeias inteiras de valor. Em 2024, o Pix movimentou R$ 26,45 trilhões e atingiu recordes de volume diário, consolidando-se como o meio de pagamento preferido do país.

O impacto do PIX transcende fronteiras. Diferentes países e organismos internacionais vêm observando de perto o modelo brasileiro, tanto como benchmark quanto com certa cautela. Enquanto isso, debates internos sobre seu papel, especialmente diante do setor privado de adquirência e dos interesses políticos em torno de sua internacionalização, também ganham relevância.

Neste artigo, exploraremos o Pix no mundo, suas controvérsias, as comparações com sistemas equivalentes em outras economias e os cenários possíveis para sua expansão internacional.

O Pix no mundo e o Brasil como referência mundial

O PIX foi desenvolvido com três premissas centrais: inclusão financeira, eficiência e inovação. Diferente de outros sistemas de pagamento instantâneo no mundo, que geralmente surgiram a partir de iniciativas privadas ou parcerias entre bancos, o modelo brasileiro foi idealizado, regulado e operado diretamente pelo Banco Central, garantindo abrangência e padronização. Resultados emblemáticos:

  • Inclusão digital: milhões de brasileiros não bancarizados passaram a ter acesso a meios de pagamento eletrônicos.
  • Redução de custos: transferências gratuitas para pessoas físicas e tarifas mais baixas para empresas.
  • Fomento à inovação: startups de meios de pagamento e fintechs puderam criar produtos sobre a infraestrutura do PIX.

Esse modelo chamou atenção de órgãos internacionais como o FMI e o Banco Mundial, que citaram o PIX como um dos sistemas mais inclusivos e escaláveis do mundo. Relatórios da BIS (Bank for International Settlements) também apontam o Brasil como exemplo de como bancos centrais podem assumir protagonismo na digitalização financeira.

Controvérsia das maquininhas

O avanço do Pix gerou tensões no setor de pagamentos, especialmente entre adquirentes e empresas de maquininhas como Cielo, Rede, Stone e PagSeguro. A principal questão era: estaria o Pix “matando” os cartões?

Historicamente, as maquininhas funcionavam como intermediárias entre consumidores, lojistas e emissores de cartão. Com o Pix, essa lógica foi rompida: o pagamento ocorre de forma direta, sem intermediários, taxas elevadas ou prazos longos de liquidação.

O Banco Central, por sua vez, sustenta que não houve canibalização, mas sim expansão do mercado. A inclusão financeira impulsionada pelo Pix também fortaleceu o uso de cartões em diferentes modalidades (débito, crédito, pré-pago). Assim, os canais coexistem em jornadas distintas. O Pix atende transações imediatas, enquanto o crédito parcelado e os benefícios atrelados ao cartão seguem relevantes. Os impactos principais são:

  • Erosão de receitas: adquirentes perderam parte das taxas de MDR (Merchant Discount Rate).
  • Modelos híbridos: maquininhas passaram a oferecer Pix como alternativa integrada.
  • Pressão competitiva: pequenos lojistas migraram para QR Codes do Pix, reduzindo a dependência de intermediários.

A polêmica com Trump: quando pagamentos viram geopolítica

Em 15 de julho de 2025, o Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR) abriu uma investigação formal sob a Seção 301 da Lei de Comércio de 1974 para apurar se políticas brasileiras em comércio digital e serviços de pagamento eletrônico seriam “injustas ou discriminatórias” contra empresas americanas. Entre os alvos mencionados estava o Pix, apontado como infraestrutura estatal que poderia favorecer o mercado local em detrimento de soluções privadas americanas.

A medida ocorreu em meio a uma disputa comercial mais ampla, marcada pela ameaça do governo Trump de impor tarifas de até 50% sobre as exportações brasileiras. Nesse contexto, o sistema de pagamentos brasileiro passou a ocupar espaço no debate geopolítico.

Desdobramentos principais:

  • Resposta oficial: em 18 de agosto de 2025, o Brasil apresentou ao USTR um documento de 91 páginas, defendendo que o Pix é público, neutro, inclusivo e aberto a qualquer empresa, nacional ou estrangeira.
  • Contestação multilateral: o governo brasileiro questionou a legitimidade da ação unilateral e acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC), pedindo que a disputa fosse tratada em foro adequado.
  • Impacto estratégico: o episódio reforçou a narrativa de soberania digital e mostrou como o Pix se consolidou como um instrumento de soft power financeiro, capaz de influenciar não apenas o mercado doméstico, mas também relações internacionais.

Agenda evolutiva: do rail ao “operating system” de serviços financeiros

O Pix está se transformando de infraestrutura de pagamentos em uma verdadeira plataforma financeira estratégica. Em 2025, novas funcionalidades marcaram esse avanço, ampliando sua relevância no mercado e reforçando sua integração com o ecossistema de Open Finance.

Pix Automático

Lançado em 16 de junho de 2025, o Pix Automático permite autorizar cobranças recorrentes (como assinaturas, mensalidades e serviços) com um único consentimento, preservando controles como limites de valor e notificações a cada transação. Para as empresas, o efeito é imediato, com redução da inadimplência, maior previsibilidade de caixa e simplificação dos processos de cobrança. Estimativas apontam que a modalidade pode movimentar ao menos US$ 30 bilhões em e-commerce nos dois primeiros anos.

Pix Parcelado

Previsto para setembro de 2025, o Pix Parcelado permitirá que consumidores parcelem suas compras diretamente no checkout, enquanto o lojista recebe o valor integral de forma imediata. O modelo se aproxima do conceito de Buy Now, Pay Later (BNPL) e promete ampliar o acesso ao crédito para os cerca de 60 milhões de brasileiros sem cartão ativo, ao mesmo tempo em que desafia a hegemonia histórica do cartão de crédito no varejo.

Pix em Garantia

O Pix em Garantia, previsto para 2026, permitirá que recebíveis futuros via Pix sejam utilizados como colateral em operações de crédito. A medida deve reduzir custos de financiamento e ampliar o acesso de pequenas e médias empresas a capital de giro, fortalecendo o papel do Pix como motor de liquidez no mercado.

Como o mundo enxerga o Pix e o que outros países estão fazendo

Embora o Pix no mundo seja citado como um case global, diversos países também implantaram sistemas de pagamentos instantâneos, cada qual com arquitetura, ritmo de adoção e foco regulatório próprios.

Índia — UPI (Unified Payments Interface)

Na Índia, o UPI, criado em 2016 pelo National Payments Corporation of India (NPCI), tornou-se peça central nos pagamentos digitais do país. Em 2024 e 2025, processou cerca de 185,8 bilhões de transações, correspondendo a 83,7 % dos pagamentos digitais de varejo, segundo o RBI.

O sistema envolve 491 milhões de usuários e 65 milhões de comerciantes, conectando 675 bancos em uma plataforma unificada. Adicionalmente, o UPI já representa quase 50 % dos pagamentos instantâneos globais por volume. A interoperabilidade internacional também avança, com integrações como o PayNow–UPI (Singapura) e parcerias em construção com players como PayPal através da plataforma PayPal World.

Similaridades com o PIX: ambas são infraestruturas A2A desenvolvidas por autoridades reguladoras; utilizam QR e APIs abertas e têm potencial de exportação.

Diferenças: o UPI ultrapassou o PIX em escala, representa maior parcela do ecossistema digital doméstico, também possui harmonização internacional mais avançada através de plug-ins como com PayPal e vários países em negociação.

Estados Unidos — FedNow

O FedNow, lançado em julho de 2023 pelo Federal Reserve, tornou-se uma plataforma pública de liquidação instantânea, operando 24/7. Em julho de 2025, já contava com mais de 1.400 instituições financeiras participantes, um crescimento significativo desde o primeiro ano, que tinha cerca de 900 entidades. Apesar do ritmo positivo, sua adoção ainda é gradual, sobretudo no varejo, devido à forte cultura de pagamentos por cartão e à fragmentação estrutural do sistema financeiro norte-americano.

Similaridades com o PIX: ambas são iniciativas públicas de infraestrutura de pagamentos instantâneos do banco central/autoridade monetária do país.
Diferenças: o FedNow enfrenta barreiras culturais, tem um ritmo mais lento de adoção e menor escala no varejo em comparação ao PIX. O Brasil mostra uma penetração muito mais rápida e universal da infraestrutura.

Europa — Wero (EPI)

A European Payments Initiative (EPI) lançou o Wero em 2024, buscando construir uma carteira digital pan-europeia baseada em pagamentos instantâneos por SEPA. Inicialmente disponível na Alemanha (julho), França (setembro) e Bélgica (novembro), já atingiu milhões de usuários e transações desde seu lançamento. O plano é expandir sua cobertura para Países Baixos e Luxemburgo entre 2025 e 2026, além de incorporar serviços como e-commerce, carteira digital e crédito (BNPL), alinhando-se à ambição de soberania digital europeia.

Similaridades com o PIX: o Wero compartilha o propósito de infraestrutura pública/regulada, e tem como foco a agregação de serviços financeiros ancorados em pagamentos instantâneos.
Diferenças: o Wero atua em um ambiente fragmentado (diversas jurisdições e legislações), seu rollout é gradual e ainda está na fase piloto, enquanto o PIX já é usado massivamente em toda a rede bancária brasileira.

Europa – TIPS (TARGET Instant Payment Settlement)

O TIPS, lançado em 2018 pelo Banco Central Europeu, permite a liquidação instantânea em euros com tempos menores que 10 segundos. No entanto, apesar da robustez técnica, sua adoção ainda é modesta: em maio de 2023, apenas 14 % das transferências SEPA eram instantâneas, o que reflete uma aceitação ainda limitada e desigual entre os países participantes.

Similaridades com o PIX: ambos operam como infraestrutura de liquidação instantânea sob autoridade pública.
Diferenças: o PIX tem aplicação massificada e universal no Brasil, ao passo que o TIPS ainda não atingiu adoção ampla no panorama paneuropeu.

Sudeste Asiático – Integração QR e interoperabilidade regional

Na Ásia, existem avanços significativos para integrar sistemas de pagamentos via QR Code entre fronteiras. Em abril de 2024, Tailândia e Laos conectaram seus sistemas PromptPay, enquanto Singapura já opera integração via PayNow–UPI desde 2023. Além disso, o Project Nexus, do BIS Innovation Hub, visa criar até 2026 uma rede regional de pagamentos instantâneos interoperáveis para o blocos ASEAN, reduzindo custos e prazos entre países vizinhos.

Similaridades com o PIX: ambos visam interoperabilidade e uso do QR como interface, com foco na inclusão e em eficiência operacional.
Diferenças: o PIX ainda não possui uma versão internacional oficial, embora modelos como esse sirvam como inspiração para sua evolução em ecossistemas regionais.

O PIX como ferramenta de inclusão e inovação

Um dos maiores diferenciais do Pix no mundo é seu impacto na inclusão financeira.

No Brasil, cerca de 34 milhões de pessoas estavam desbancarizadas antes de 2020. O Pix contribuiu para reduzir esse número, permitindo que usuários com apenas um celular pudessem acessar meios de pagamento digitais. Além disso:

  • Microempreendedores puderam receber pagamentos sem depender de maquininhas.
  • Serviços públicos passaram a aceitar PIX, incluindo impostos e taxas.
  • Inovação aberta: fintechs desenvolveram produtos em crédito, parcelamento e conciliação sobre a infraestrutura do PIX.

O futuro do Pix no mundo

Ao observarmos o panorama global, fica claro que os pagamentos instantâneos não são uma tendência isolada do Brasil, mas sim parte de uma transformação estrutural no sistema financeiro internacional.

O que antes era restrito a transferências bancárias demoradas e caras agora se transforma em redes digitais que funcionam em tempo real, 24/7, com custos mínimos. O Brasil, com o PIX, assumiu a liderança, influenciando como outros países estruturam suas próprias soluções. Entretanto, o futuro desse ecossistema dependerá de alguns fatores críticos:

  • Interoperabilidade internacional: a capacidade de conectar sistemas como PIX, UPI, FedNow e TIPS em uma rede global de liquidação.
  • Governança pública x privada: definir o papel do Estado em relação às big techs e bancos privados.
  • Segurança e confiança: a sofisticação dos crimes digitais cresce junto com a digitalização, exigindo constantes evoluções em autenticação e monitoramento.
  • Inclusão sustentável: garantir que a digitalização não exclua populações sem acesso pleno à internet ou dispositivos móveis.

O Brasil como standard-setter de pagamentos

O Pix no mundo mostrou ao mundo que política pública combinada com engenharia de plataforma pode redefinir a curva de custo, velocidade e inclusão no sistema financeiro. A controvérsia em torno das maquininhas evidenciou um ponto de inflexão econômico, a disputa narrativa com os Estados Unidos revelou o caráter geopolítico dos trilhos digitais, e o avanço de iniciativas como UPI (Índia), FedNow (EUA), Wero (Europa), ASEAN QR e Nexus (BIS) confirma que o futuro aponta para pagamentos account-to-account, instantâneos e interoperáveis.

O debate não é mais sobre adotar ou não, é sobre como transformar a infraestrutura de pagamentos em vantagem, explorando dados, incorporando crédito nas jornadas, assegurando compliance e expandindo operações cross-border. O Brasil tem no Pix um ativo singular, reconhecido globalmente como referência. 

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Autor

Júlia Ilkiu

luby.com.br

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