A tokenização de ativos e o uso do blockchain prometem transformar mercados com liquidez ampliada, redução de custos de intermediação e maior transparência. No entanto, muitas empresas estão adotando essas tecnologias de forma precipitada e desconectada de suas realidades operacionais. Projetos são anunciados com grande apelo de marketing, mas frequentemente carecem de integração aos sistemas centrais, de um modelo de governança robusto e de um propósito estratégico claro.
Segundo a McKinsey, os ativos tokenizados podem atingir US $2 trilhões até 2030 se integrados a ecossistemas regulatórios e operacionais maduros. Ainda assim, muitos projetos fracassam antes de atingir escala por adotarem uma abordagem superficial à tokenização de ativos.
Sintomas da implementação imatura
Os sinais de que uma iniciativa de tokenização de ativos está sendo conduzida sem maturidade costumam aparecer rapidamente. Geralmente, eles se manifestam quando a tecnologia é tratada como um fim em si mesma, sem conexão com objetivos estratégicos claros ou sem alinhamento com processos existentes. Entre os sintomas mais recorrentes, destacam-se:
- Tokens isolados de sistemas corporativos: ausência de integração com ERPs, CRMs e plataformas financeiras, gerando operações paralelas e maior esforço manual para conciliação.
- Governança inexistente ou frágil: falta de regras claras sobre emissão, transferência, auditoria e destruição de tokens, aumentando vulnerabilidades e riscos regulatórios.
- Experiência do usuário negligenciada: interfaces complexas e jornadas digitais confusas dificultam a adesão de clientes, parceiros e investidores.
- Foco no hype em vez do problema real: projetos motivados pelo desejo de parecer inovador, sem resolver desafios estruturais ou gerar benefícios mensuráveis.
Impactos negativos da tokenização de ativos mal planejada
Uma adoção superficial da tokenização de ativos não resulta apenas em frustração interna, ela pode gerar danos concretos à organização e ao ecossistema em que está inserida. Os impactos mais comuns incluem:
- Custos elevados sem retorno mensurável: grandes investimentos em tecnologia e consultoria que não se traduzem em eficiência ou novas receitas. Em alguns casos, o custo de manutenção supera o valor agregado.
- Risco regulatório e reputacional: sem governança adequada e compliance com marcos legais, a empresa fica exposta a sanções, auditorias inesperadas e perda de credibilidade no mercado.
- Perda de competitividade: enquanto recursos são desperdiçados em soluções superficiais, concorrentes mais estratégicos lançam ecossistemas tokenizados integrados e regulados, capturando novas fontes de receita e eficiência.
A abordagem correta: como estruturar uma tokenização de ativos eficiente
Reverter esse cenário exige mais do que conhecimento técnico, é necessária uma visão sistêmica, capaz de alinhar objetivos de negócio, tecnologia, governança e experiência do usuário. Abaixo, detalhamos cada aspecto essencial dessa jornada:
- Defina um propósito estratégico claro – comece com um diagnóstico do problema ou da oportunidade. Por exemplo, empresas do setor financeiro usam a tokenização de ativos para fracionar cotas de fundos ou viabilizar liquidez de recebíveis, enquanto o setor imobiliário busca maior acessibilidade e velocidade nas negociações. Pergunte sempre: “Que valor tangível isso trará aos nossos clientes e ao negócio?”
- Integre desde o início – a tokenização não pode ser um sistema paralelo. É fundamental prever conectividade com ERPs, CRMs, sistemas de liquidação e bancos de dados regulatórios. Casos de sucesso mostram integrações diretas com sistemas de custódia e plataformas de pagamentos, garantindo escalabilidade e reduzindo riscos operacionais.
- Implemente governança robusta – estabeleça papéis claros: quem pode emitir tokens, quem audita, quais são os gatilhos para destruição ou alteração de registros. Inclua mecanismos de compliance regulatório desde o design, considerando leis de valores mobiliários e normas de privacidade de dados. Modelos de comitês ou DAOs corporativos podem apoiar a transparência e a auditabilidade.
- Coloque a experiência do usuário no centro – crie jornadas digitais intuitivas e seguras. Invista em UX e usabilidade, especialmente em processos críticos como onboarding de investidores, assinatura digital de contratos e resgate de ativos. Plataformas que simplificam essas interações tendem a ter taxas de adoção muito superiores.
- Monitore e ajuste continuamente – defina KPIs claros: tempo médio de liquidação, volume de ativos tokenizados, custo por transação, satisfação do usuário e aderência regulatória. Estabeleça rotinas de auditoria tecnológica e de governança, garantindo evolução constante. Essa prática permite responder rapidamente a mudanças de mercado e regulatórias, preservando a competitividade.
Conclusão
A tokenização de ativos tem potencial de remodelar setores inteiros, mas apenas quando implementada com visão de longo prazo, integração sistêmica e governança sólida. Projetos sem esses elementos tendem a se tornar apenas ações de marketing sem impacto real.
Empresas que adotarem uma abordagem madura para tokenização de ativos estarão melhor posicionadas para capturar valor sustentável.
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